quinta-feira, 28 de julho de 2011

INDÍGENAS EM MINAS GERAIS





Não existe uma constatação segura a respeito da origem dos grupos indígenas de Minas Gerais. Mas segundo estudiosos, etnicamente, a maioria das tribos indígenas mineiras liga-se ao grupo Gê ou Tapuia. A este grupo pertencem os Aimorés e os Botocudos, estes subdivididos em tribos de Arañas, Giporoques, Potes, dentre outras. Os Aimorés habitavam as terras limítrofes de Minas, Espírito Santo e Bahia.

 Segundos estudiosos, os Botocudos viviam no litoral, mas foram expulsos pelos índios Tupis, indo para o interior. No século XVII inicia-se inimizade entre Botocudos e Portugueses, o que provoca grande massacre de tribos que viviam em Porto Seguro, Ilhéus, Espírito Santo, norte e nordeste de Minas. As tribos que sobreviveram foram expulsas para o norte e nordeste do país. No caso dos Botocudos foram para os Vales dos rios Jequitinhonha, Rio Doce, Mucuri e São Mateus.

 Os Botocudos eram índios ferozes que viviam em guerras constantes com outras tribos indígenas e com brancos invasores de suas terras. Há suspeitas de que algumas tribos eram canibais.

OPRESSÃO AOS ÍNDIOS

No Alto Jequitinhonha, região de Serro e Diamantina, onde predominava a mineração, os índios eram destruídos, como bem ilustra a novela "Acaiaca" de Joaquim Felício dos Santos, publicada em 1868, quando não podiam ser aldeados para fins de trabalho escravo.

No Médio e no Baixo Jequitinhonha os índios conseguiram refúgio por mais um tempo, através de condições geográficas e pastoris favoráveis, que facilitavam a sua resistência contra as agressões dos aventureiros e caçadores.

Mas no Médio Jequitinhonha nos primórdios do século XIX as autoridades determinam guerra aos indígenas através da carta régia de 13 de maio de 1808. Esse documento justifica "A guerra como justa" levando em conta as agressões indígenas aos colonizadores. A guerra, segundo a carta régia só deveria ter fim enquanto não fosse ocupada toda a região e patenteada a superioridade dos brancos. (MORENO, 2001; 62).


ÍNDIOS ARAÑAS




Os Aranãs, juntamente com os Nacnanucs, Pojichás, Jiporoques, Potés e outros, são tribos do grupo dos Botocudos. Os Aranãs habitaram os vales dos rios Urupuca, Surubim e Itambacuri, região atualmente formada pelos municípios de Água Boa, Malacacheta e Itambacuri.



Os Aranãs eram uma tribo considerada atrasada, sendo considerada extinta no final do século XIX. Até 1.862, eram oficialmente assentados às margens do Córrego Aranã, afluente do Urupuca. Em 1.873, consta que existiam alguns representantes dessa tribo juntamente a outros silvícolas catequizados no aldeamento de Itambacuri pelos capuchinhos Frei Serafim e Frei Ângelo. Até o final da década de 1.920 encontrava-se índios puros da tribo Aranã em Itambacuri. Atualmente seus legítimos descendentes residem nos municípios de Araçuaí, Coronel Murta, Virgem da Lapa, Ponto dos Volantes, Belo Horizonte, Juatuba, Itinga, Pará de Minas e São Paulo.
De acordo com o professor, natural de Malacacheta e residente em Capelinha, José Carlos Machado, "com a ferocidade do sangue botocudo nas veias, os Aranãs expulsaram as tribos mais mansas do Urupuca e Surubim e aí se estabeleceram. Mas não sobreviveram à luta com as tribos mais fortes na disputa por terras e alimentos. Além disso, o confronto com os colonos brancos e as doenças extinguiram completamente a tribo Aranãs."

O fato de a tribo Araña ter sido oficialmente apontada como extinta provocou atualmente sérios problemas para os seus descendentes. O grupo indígena antes conhecido pelas denominações Índio e Caboclo do Jequitinhonha iniciaram a uma busca pela sua identificação étnica  recentemente, datando do final da década de 1990. A preocupação começou após um grupo familiar da etnia Pankararu, originário de Pernambuco, ter migrado para a Fazenda Alagadiço, município de Coronel Murta, ocupando terra doada pela Diocese de Araçuaí, onde moram algumas famílias aranã.
O convívio com os indígenas de Pernambuco, que participavam do movimento e da luta pelos direitos indígenas, estimularam o desejo antigo do grupo de investigação sobre sua origem étnica.
Com isso o grupo começou a reivindicar ao Governo Federal o seu reconhecimento enquanto povo indígena Aranã.
Grande parte dos Aranã está na Fazenda Alagadiço. Alguns vivem do artesanato e da atividade agropecuária, e uma das marcas registradas dos indígenas é uma bebida de cor avermelhada, denominada "Xamego" (mistura à base de uma planta denominada "quiabinho").

MAXAKALI

Os índios Maxakali estão instalados no nordeste de Minas Gerais, entre os vales do Mucuri e Jequitinhonha. Estes são o símbolo da resistência entre os povos indígenas, visto que a mais de 200 anos de contato com os brancos resguardaram sua tradição. Ainda hoje, poucos índios falam o português, com o intuito de preservar sua língua.
As aldeias Maxakali ficam entre as cidades de Bertópolis e Santa Helena de Minas, e são divididas em duas áreas, a Água Boa e Pradinho, com área total de 5.293 hectares. Estes dois grupos são divididos em clãs, o dos Buenos, em Pradinho, e o da Noêmia, de Água Boa.
Os Maxakali enfrentam dificuldades decorrentes de sucessivas administrações autoritárias, o que se tem refletido nos graves problemas de embriagues, desajustes sociais e marginalização econômica. A Mata Atlântica que antigamente predominava na área Maxakali foi devastada por fazendeiros invasores, estando hoje coberta de capim. Outro problema é a resistência sistemática a casamentos interétnicos e a mudanças na organização social e no seu universo cultural.
Os Maxakali - palavra em língua desconhecida, aplicada pela primeira vez na área do rio Jequitinhonha - não podem ser identificados como um único grupo, mas como um conjunto de vários. A denominação decorre desses grupos se articularem politicamente como aliados e terem se aldeado conjuntamente, sobretudo após 1808, quando ocorreu a invasão sistemática de seus territórios e se ampliaram os conflitos com outros grupos, particularmente com os denominados Botocudos.


PANKARARU

O grupo familiar da etnia Pankararu, originário de Pernambuco (aldeia Brejo dos Padres, município de Tacaratu), vive na Fazenda Alagadiço, município de Coronel Murta. Eles ocupam uma terra doada pela Diocese de Araçuaí, onde moram algumas famílias Aranã.
Os Pankararu se espalharam por vários Estados brasileiros na década de 50, devido ao problema de seca, aos conflitos pela posse da terra e outras formas de agressão, resultado da construção da hidrelétrica de Itaparica no Rio São Francisco, que inundou a maioria das terras férteis da região.

O grupo familiar de Eugênio Cardoso da Silva e Benvinda Vieira migrou em busca de melhores condições de vida para Minas Gerais, onde durante quase 30 anos, conviveram com outros povos como os Krahô, Xerente, Karajá e Krenak, Pataxó. Com os Pataxó e os Krenak viveram durante 11 anos, estabelecendo laços  matrimoniais com estes.

Em 1994, participaram da Romaria dos Migrantes, no Vale do Jequitinhonha, e conseguiram sensibilizar a Diocese de Araçuaí externando o desejo de ter terra para desenvolverem sua vida. A Diocese de Araçuaí doou-lhes 60 hectares de terra pertencente à fazenda Alagadiço, para onde se mudaram em 12 de junho do mesmo ano.

Construíram no local a aldeia Apukaré, onde se dedicaram à agricultura e ao artesanato. Participaram de eventos culturais no Vale do Jequitinhonha, de cursos para facilitar seu processo de fixação naquela área, assim como de eventos promovidos pelo movimento indígena e movimentos populares, em nível estadual e nacional.

A fabricação de artesanatos são usadas tanto para enfeite pessoal, principalmente no momento do Toré e demais cerimônias, como para comercialização como meio de angariar recursos para sua subsistência. Na agricultura são produzidos principalmente feijão, milho e mandioca. Criam animais de pequeno porte como porcos e galinhas.

O grupo possui uma importante a cultura do Toré (dança religiosa), comum nas culturas indígenas do nordeste. Nesta dança são utilizados instrumentos como o maracá, as flautas e o apito de rabo de tatu. As mulheres, na cultura Pankararu, não participam da dança, tendo a função de canto.

Os Pankararu utilizam uma vestimenta confeccionada através de uma planta denominada croá para sua dança. Quem dança o Toré são os Praiás, entidades sagradas, seres encantados. Nas aldeias Pankararu há um lugar especial para essas entidades se prepararem para a dança. Esse lugar é denominado Poro e fica localizado no meio da mata.

Os Praiás são inúmeros. Cada um possui seu canto e sua história. O nome dado à aldeia (Apukaré) é o nome de um Praiá, que protege a caminhada do grupo de Eugênio e Benvinda.

Os Pankararu não vêm problemas em Ser católico e possuir uma crença indígena simultaneamente. O sincretismo religioso compõe sua realidade, da mesma forma que compõe a realidade de grande parte das populações indígenas no país. Acreditar em Deus e nos Praias, participar do ritual do batismo na igreja católica e realizar o ritual do “Menino no Rancho”, rezar o Pai Nosso e cantar para os Praiás é a forma dos Pankararu perceberem e compreenderem o mundo.

Com uma cultura muito marcante pelos cantos, danças, indumentária, festas e pinturas corporais, os Pankararu têm constituído um estímulo a outros grupos descendentes de indígenas no Vale do Jequitinhonha, no sentido de resgatarem sua origem e história, como vem ocorrendo com o povo Aranã.


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